segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Capítulo 3 - Saindo do Armário sem ser vista


Beatriz fala…

Eu não me descobri gay, não tive maiores complexos existenciais e levava a coisa de uma forma leve. A “ficha só começou a cair” depois que acabei o meu primeiro namoro. Foi tudo muito rápido, menos de dois meses desde o início da curiosidade até o primeiro beijo, e conseqüente primeiro amor. Eu me apaixonei de uma forma abrupta, intensa, desnorteante.

O mais incrível de tudo é que, até então, eu adorava garotos, era absolutamente hetero e se eu por ventura tive algum desejo por mulher antes daqueles dois meses que antecederam a minha “conversão” (depois descobri que os tinha desde pequena), eles estavam muito bem bloqueados.

Eu não tinha o mínimo contato com o mundo gay, apenas com ela e com um único casal lésbico amigo. Na minha cabeça, o amor que sentia por ela era o mais puro e verdadeiro de todos. Tão forte que havia inclusive superado o fato dela ser uma mulher. Eu a amaria de qualquer forma, fosse ela homem, mulher ou ornitorrinco. Doce ilusão!
Uma vez terminado o meu namoro, comecei a freqüentar “chats” lésbicos no Mirc (sim, faz tempo) e a ir para barzinhos com o meu “casal amigo”. Já estava outra vez namorando rapazes, mas sentia falta de conversar com meninas a respeito de meninas.
Nossa, ainda posso me lembrar o frio na barriga, a mistura de arrepio e angústia que senti quando fui pela primeira vez à boate gay e vi todos aqueles homens e mulheres se beijando, com os go-go-boys dançando no palco. Logo na minha noite de estréia em boates GLS, eu reconheci e fui reconhecida por:
Meu ex-professor de matemática do cursinho.
A bibliotecária do colégio em que eu estudara no primário.
A esposa do melhor amigo do meu ex-namorado, muito bem acompanhada por uma jornalista de quase 1,80m!

Foi duro me adaptar, até que eu a conheci.

M Y R N A

A primeira mulher lésbica que tinha as características que eu admirava num homem. Bonita, bem sucedida, inteligente e completamente louca! Menos de três semanas após nos conhecermos, eu estava, outra vez, perdidamente apaixonada por uma mulher!
Eu queria andar de mãos dadas na praia, beijar no meio da boate, ir de “primeira dama” pras festas do trabalho dela. E, acreditem, eu fiz tudo isso e muito mais, tendo, inclusive, que fugir correndo de uma rave para não ser esfolada por um grupo de homens tarados que insistiam em entrar no meio do nosso beijo.

E foi assim que eu sai do armário….

SAINDO DO ARMÁRIO

Bom, eu comecei este capítulo contando um pedaço da minha história para que vocês entendam tudo o que NÃO se deve fazer para sair do armário sem ser vista. Assumir-se gay para si mesma é uma coisa, assumir para o mundo todo é muito mais complexo do que parece. Mesmo que você seja absolutamente decidida sobre a sua sexualidade, é interessante que você pondere todas as conseqüências acarretadas ao se “assumir oficialmente” antes de dar o próximo passo.
Este é um capítulo muito difícil, já que cada uma deve decidir a sua maneira de lidar com o assunto. Eu gostaria muito de saber a fórmula mágica para viver com decência numa sociedade retrógrada e preconceituosa, mas não sei. A única conclusão à qual cheguei foi que a única maneira de mudar isso é com o respeito mútuo. E, enquanto a sociedade não evolui, eu vou fazer um relato de algumas confusões que você DEVE evitar, se quiser manter a sua privacidade.
* A partir do momento em que você começa a ficar com garotas, a atenção em relação à escolha das pessoas com quem você vai se envolver dali por diante deve ser redobrada. Cuidado ao escolher as mulheres que você vai ficar. Lembre-se, você não é movida à testosterona, e o importante é a qualidade!

* Quanto aos garotos… ihhh, ser bissexual é barra. Todo homem, sem exceção, quer levar pra cama duas mulheres ao mesmo tempo. Então, se ele descobrir que você gosta de meninas, a chance dele querer se envolver com você só pra “comer” você e uma amiga sua ao mesmo tempo é grande! Falar a um homem que você gosta de garotas é algo complicado, tenha certeza de que ele é de confiança antes de contar. Homens são bem mais fofoqueiros do que parecem. E, se o cara for só seu amigo, ele ainda pode ficar com alguma ex-namorada sua só pra provar que também consegue! Ai… ai… homens! Mas ainda há esperanças. Homens decentes e apaixonáveis existem, só estão todos casados ou são gays.

* Se você não quer receber aplausos de uma velhinha em pleno Shopping Center, ser chamada a atenção pelo garçom do restaurante, ou ouvir uma voz de criancinha perguntando para o pai se menina pode beijar menina, evite beber demais com alguém por quem você sente atração física em lugares caretas. No caso da coisa apertar, peça a conta e saia! Ou então use a cabine do banheiro (eu não recomendo, mas tem gente que gosta).

* Nunca, jamais, sob hipótese alguma, beba demais quando estiver com algum namoradinho e uma mulher interessante estiver olhando para você. Saia do recinto imediatamente e comece a rezar para ele não levar um chifre. Homens heteros que são traídos por duas mulheres são a raça mais vingativa que a humanidade já viu!

* Não tenha namorados de mentira, principalmente se eles não souberem que o são. Eles não merecem ser cornos só porque são homens, por favor! E, como eu já disse, eles são vingativos.

* Todos os apartamentos modernos têm câmeras de segurança! Principalmente nos elevadores!

* Tenha sempre em mente que boate gay também é antro de fofoqueiros e, não é porque as pessoas que estão ali dentro devem na praça que elas vão deixar de falar de você. Namore tranqüila, mas não faça o local de motel.

* Orkut, fotolog e blog expõem sua vida pessoal. Logo, pense bem no que você vai colocar neles.

*Nunca roube o namorado ou a namorada de uma mulher mal amada. Se o fizer, esteja preparada para as conseqüências.

*Nunca tenha Helena Moraes como sua melhor amiga! (Brincadeirinha, meu amor! hehehehe).

Helena fala…

Tô tão ótima… não satisfeita em abrir todos os capítulos, ela sempre me esculhamba quando chega na parte em que eu vou começar a falar. Freud explica essa frustração, viu?! Hehe… sim, vamos ao que interessa.

Sair do armário é, por definição, admitir ser gay. Seja para você ou para outros, via de regra, a saída mais correta e prudente envolve auto-preservação. A imagem pública que você terá para as pessoas dependerá de como você conduzirá a sua vida após admitir para si mesma que é lésbica, e não do fato de sê-la, única e exclusivamente. Se você parar para pensar, reconhecerá pessoas que sabidamente são gays e levam vidas e carreiras de respeito, independente de opção sexual. Haverá, também, aquelas pessoas que levam vidas expostas e são alvo de todo tipo de comentário. Qual a diferença entre elas?

A expressão “sair do armário sem ser vista” consiste não em se tornar uma eterna enrustida, mas em se assumir para si mesma e traçar metas. É você tentar organizar a grande bagunça emocional que carrega em mente, e projetar seus atos de hoje num futuro de amanhã. Assim, você poderá levar uma vida de respeito e não carregará o fardo que imagina aguardá-la.

Como exemplo cito Firma, grande amiga, executiva competentíssima. Firma é sabidamente lésbica há anos, e a cada grande evento VIP social, chegam dois convites à sua casa: femininos. Pensa que ela precisou contar a alguém que era gay? Não! E o fato de ser lésbica a deixou marginalizada?! De forma alguma. É freqüentadora dos melhores restaurantes da cidade, conhecedora de culinária, enófila, culta e tudo o mais.

Admirada por pessoas que são e que não são gays, mantendo os mesmos amigos que tinha antes de virar lésbica, Firma é um exemplo de que a saída do armário pode sim – e deve – ser suave para todas nós.

O grande problema da maioria das lésbicas recém-chegadas é a fome. A vontade de abraçar o mundo com as pernas (literal e metaforicamente), a vontade de beijar todas as mulheres do mundo – ao mesmo tempo –, de conhecer todas as boates gays, bares gays, pessoas gays e ainda assim permanecer incógnita no trabalho. Isto é surreal! Não se engane: se você não tomar cuidado, as pessoas verão você e o que você estiver fazendo no mais remoto dos lugares. Saberão com quem se envolveu, o que fez e deixou de fazer. E o que fazer então?! Não freqüentar lugares gays?!

Claro que não! Você deve conhecer lugares gays, freqüentar o seu mundo e figurar nas festas – até para ampliar o seu círculo de amigas e conhecer novas garotas – o problema é como você faz isto e a sua postura pública. Estes sim, definirão que tipo de imagem você terá. Como agir então? A primeira coisa que recomendo: tenha calma. Faça ioga, terapia, tome betabloqueador. Não seja impulsiva e imediatista, aprenda com quem já errou (e muito).

Vamos aos principais conceitos práticos que envolvem a saída do armário:

Ao sair do seu armário, onde vc estaria? Em casa. A saída do armário começa em casa, e é na sua casa que você tem que pensar em primeiro lugar. Se você é uma garota caseira, tranqüila, serena, não vire uma mega-baladeira cheia de amigas novas que a sua mãe não conhece. Ela vai, no mínimo, achar que você está envolvida com drogas. Mude hábitos antigos aos poucos, não deixe que se perceba uma mudança brusca em sua vida ou na sua personalidade, isto gera ansiedade naqueles que estão ao seu redor, e faz com que estes pensem que há algo de errado com você – e comecem a fuçar a sua vida. E qual o problema? O problema é que você acabou de sair do armário e ainda está definindo quem vai ser, os lugares que freqüentará, os amigos que terá… não é interessante ter que lidar com conversas familiares delicadas neste momento. Mantenha a harmonia dentro de casa durante o início, você vai precisar do colo da sua mãe… sair do armário é difícil e desgastante para quem já tem os pré-conceitos da sociedade anexados ao superego gigante do subconsciente.

Vamos lá… o que isto quer dizer na prática? Conversas ao telefone com a sua nova namoradinha devem ser feitas da porta pra rua. Não traga mulher para casa. MSN é um perigo, principalmente se você grava conversas. Cuidado com logs e pastas de arquivos recebidos. Mantenha sua privacidade e individualidade. Não deixe fotos ou cartas de garotas soltas em casa se você não quer que alguém encontre. Não leve 3 amigas novas para casa na mesma semana, ou sua mãe achará estranho. Apresente amigas novas ocasionalmente, sempre fazendo menção a que curso fazem, de onde vocês se conhecem e que amigos em comum têm. Se você não mora só, não leve meninas pra dormir com você em casa: é furada. Ok, você levou… eu sei, você não conseguiu evitar. Pelo menos espere todos dormirem para fazer, não vá fazer pegação às 9 da noite, porque eventualmente a novela vai acabar e todos vão desligar a tv e passear pelo corredor ao som dos seus gemidos.

Esta merece um parágrafo único: não minta para sua mãe. Todas as mães sabem quando os filhos mentem. É feito o gaydar, elas passaram 20 anos observando você… nem elas mesmas sabem como identificam uma mentira sua, mas elas o fazem. E se você começar a mentir diariamente, a sua mãe fará da sua vida um inferno – ou ficará louca e enlouquecerá você junto. Caso você vá sair para uma boate gay, não minta. Não diga que você vai dormir na casa da pobre coitada da sua melhor amiga do colégio. Você vai chegar com cheiro de cigarro nas roupas e a sua mãe vai pensar que a sua amiga está fumando, pondo você para fumar, virou incendiária ou está fazendo rituais satânicos de madrugada ao redor duma fogueira. Diga que vai a uma balada. Se não quiser especificar, diga que ainda não escolheu, que vai passar pela frente e ver qual aquela que te atrai mais.

Ok, você consegue sair para baladas com discrição, sua mãe não está ciente de qualquer mudança em sua vida. Ponto para você. Vamos sair de casa.

Quem você encontra à porta de casa? Seus amigos, a segunda família. Estas são as pessoas que você selecionou, dentre todas aquelas que te cercam, para serem seus companheiros nos melhores e piores momentos. Esta parte é importante: não abra mão de seus amigos. Não os deixe de lado para fazer um grupo inteiramente novo no mundo gay. Você dificilmente conseguirá reunir pessoas com igual afinidade, respeito e admiração por você num universo onde toda mulher é uma aqüendação em potencial. É um rebuceteio! Tenha seus amigos fora do mundo gay, preserve-os. Os valores que uniram vocês não foram impulsos sexuais ou interesses de aqüendação, mas sim afinidades no sentido amplo da palavra. Selecione, dentre seus amigos, aquele ou aquela em quem você confia mais e conte – saiba medir as palavras, conte devagar, ele ou ela podem não esperar – sobre sua descoberta sexual. Divida suas angústias, seus medos, a insegurança que te acompanha. Nada como uma boa amiga hetero que te entende nestas horas e oferece o ombro amigo, a terceira visão (de quem está de fora) e uma opinião neutra em todas as situações. Se esta pessoa realmente for sua amiga, ela não só entenderá, como te apoiará e irá admirar a sua coragem: é preciso ser “muito mulher” para admitir ser lésbica.

Se você der sorte, conseguirá manter todos os seus amigos e integrar algumas pessoas gays que conhecer ao seu grupo, ou levar alguns dos amigos heteros consigo quando for a algum lugar gay. A presença de seus amigos antigos ajudará você na hora de selecionar suas novas amigas, você acabará andando com garotas que têm mais o seu perfil, terá o apoio dos seus amigos caso tudo dê errado e poderá continuar saindo e fazendo os mesmos programas de sempre com a sua namoradinha linda ao lado, tendo o respeito de todos.

Não minta para os seus amigos. Você irá magoá-los, perder a confiança que conquistou a duras penas durante anos a fio e, quando se der conta, este processo será irreversível. Você estará, então, sozinha no meio da selva do rebuceteio. E esta última é cruel, acreditem.
Beatriz fala…

Só um adendo: Todas as mulheres “entendidas”, salvo raras exceções, cuja família descobriu a sua preferência sexual, provavelmente ouviram uma das seguintes frases:

“Isso é uma fase, vai passar”.
“Isso é tudo má influência, a culpa é dessas pessoas que você está andando!”.

Tenha sempre uma postura firme em relação a isso! Não seja covarde, não deixe as coisas no ar! Diga que se você está ficando com mulher, independente do furacão de saias que esteja adentrando a sua cabeça, é por vontade sua, não por influência dos outros! Isso geralmente não muda a postura dos seus pais em relação a nada, mas abre um viés para que você possa ter o direito de andar com quem quiser. Afinal, você já está bem grandinha e sabe o que é melhor para você, certo? Falaremos sobre isso posteriormente em outro capítulo.

Helena fala…

Já gozando de harmonia familiar e mantendo seus amigos, vamos à rua agora. Obrigações em primeiro lugar. É segunda-feira pela manhã: onde você estará?! No trabalho/faculdade/colégio. E aí? Você precisa sair contando para todo mundo?

- Fulano, me dá as anotações de bioquímica, por favor?
- Aqui, Helena!
- Por sinal, eu sou lésbica, tá?

Não!!

Você não anuncia que é gay, não tatua o arco-íris na testa e pinta o cabelo de rosa. Sossega! Você vai levar, profissionalmente, a mesma vida que levava antes. Restrinja-se apenas a não permitir que a sua namorada vá te visitar no meio da tarde e leve um buquê de flores pedindo desculpas pela briga da hora do almoço. Deixe bem claro que lugar de trabalho é lugar de trabalho. E arrume namoradas com noção o suficiente para entender isto! Outro ponto a ser destacado é: não atenda telefonemas de mulheres durante o horário de trabalho. O enrustido/mal-amado ao lado (aquele casado e frustrado, com 2 filhos, que pega menininho no final-de-semana escondido da esposa, chegando na segunda e dizendo que o congresso de gastroenterologia foi maravilhoso) estará pronto para ouvir a sua conversa e espalhar que você é ‘sapatão’. Atenda o telefone e diga “Oi, linda. Jajá eu te ligo, tá? Me dá cinco minutinhos, estou ocupada”. Linda pode, mulheres se tratam carinhosamente. Entretanto, se você diz que não namora, não atenda o telefone dizendo “Oi, meu amor! Que saudades de você… quero vc hoje novamente, meu lindo” (sim, tem gente que acha que trocar o gênero da palavra ajeita tudo, né?)

Cena verídica, eu e Bia no salão:

Bia: “Eu odeio o Marcelo. Aquele idiota. Me pôs um chifre com a cidade inteira!”
Helena: “Ele não vale um real! Eu sempre te disse… e vc brigava comigo! Sua infeliz! Muito melhor esse cara que vc tá agora”
Bia: “É… e Marcelo agora anda ligando sabe pra quem? Pra Bernardo!”
Helena: “O QUE?! Bernardo, meu ex?! Ahhhh… se Marcelo ficar com Bernardo, EU MATO ELE!”
Manicure: “Por que você namorou um viado?”

Conclusão: Não inventa. É “jajá te ligo”, e quando você puder falar tranqüilamente, telefone. Esta dica vale para dentro de casa também.

Caso alguém levante o tópico “lésbicas”, seja para dizer que alguém virou, para falar de algum personagem do The L Word ou para dizer que tem vontade de beijar, não dê uma de homofóbica nem homófila. Seja neutra. Ambiente de trabalho não é lugar para ser homofóbica se você é lésbica. Caso alguém saiba de você, começará a questionar seu caráter e valores morais (afinal, você será uma potencial candidata a mentirosa patolócia, sociopata e afins). Não diga também que tem várias amigas lésbicas e amigos viados (se bem que hoje em dia todo mundo tem amigo viado). Não se vincule ao mundo gay, nem o repudie publicamente. Mantenha-se calada. Caso a sua opinião seja solicitada, limite-se a dizer “sou a favor de toda forma de amor”, ou “amor é sempre amor, desde que haja respeito”. Estas sim são respostas da lésbica respeitada.

Ok, você tem o respeito em ambiente de trabalho, as pessoas te admiram por sua competência, você se preserva e pode até haver algum boato, mas você é tão boa profissional, tem uma imagem tão impecável e uma postura tão admirável que, sinceramente falando, ninguém liga tanto assim.

Chegamos na parte legal! Baladas!!

Você vai àquele lounge absurdo que rola toda sexta. Chegando lá, vê a menina mais absurda, sensual e deliciosa do lugar olhando fixamente nos seus olhos… você olha para os lados e não vê ninguém olhando de volta. É para você! Parece mentira… O decote enorme que ela usa fica à mercê de ceder a cada mexida que o quadril faz ao som da música eletrônica, e você parece antecipar o que aquele pedacinho de roupa guarda por baixo. O sangue ferve, a nuca arrepia… dá aquele frio no estômago. Você respira fundo e resolve que vai até lá. Ela te olha, te chama… você não acredita. O coração dispara, você já se imagina ali, pegando em tudo e… Puuuuuuuuuuutz!!!

Seu colega de trabalho, aquela bicha louca e fofoqueira de quem todo mundo fala mal está bem ao lado dela, dançando todo suado e vestindo uma regatinha amarela toda furadinha (podre!).

E agora? Pensa rápido… pega ou não pega? Você pode ter uma noite absurda com ela e guardar os momentos extasiantes na memória – e dane-se a bicha louca, ele é viado também, não?! – ou você pode deixar passar com medo de se queimar no trabalho. Qual dos dois?! Óbvio que se você se der estas duas opções, você vai acabar pegando… se não agora, daqui a meia hora quando tomar a próxima vodka. Seja esperta. Chame-a para conversar e tire-a dali. Leve-a para o outro lado da boate, beije, converse, faça romance… e depois convide-a para sair de lá, sob o pretexto de não querer se expor. Pode acabar sendo até melhor, afinal de contas vocês estarão a sós.

No dia seguinte, você vai à mesma boate. Sem a bicha fofoqueia agora. “Rááá!!”, você pensa. Esfrega as mãos e está pronta para a guerra. Chega na balada e beija 5 pessoas durante a noite. Na hora da saída você vê que não era a bicha fofoqueira quem estava na boate, mas o seu cunhado com a sua irmã, que foram para um aniversário qualquer e viram você “fagocitando” a festa inteira. Moral da história? Se uma mulher beija 5 homens na balada e é chamada de promíscua, você está se submetendo ao mesmo fazendo isto publicamente. É tão feio quanto. Quer pegar 5 meninas na mesma noite? Vai fundo! Faz uma filinha no banheiro e fica lá dentro beijando todas elas sem que ninguém te veja. Mas lembre-se de que todas elas têm amigas, e o mundo gay é, via de regra, um ovo em qualquer lugar.

Já é domingo, e hoje tem aquele café maravilhoso… você não pode perder. TODO MUNDO vai estar lá… a raxa de sexta, as 5 do sábado e a que você vai pegar hoje, que não é nenhuma destas 6. Você já é recebida com festa na mesinha da frente, a moça que dá o papel da entrada já te conhece. O samba já é familiar, você já sabe as letras de cor. Dança fazendo passinhos. Toma todas, passa naquele bar ainda antes de ir para casa. Na segunda pela manhã, chega na aula com o cabelo cheirando a cigarro e resto de maquiagem ao redor dos olhos. Não teve coragem de tomar banho e a pele tá aquele óleo super estiloso. Moral da história: não freqüente baladas de quinta a domingo se você não quer ou não pode ter fama de baladeira, pois é isto que vai acontecer. Cuidado também para não deixar que as farras atrapalhem a sua vida profissional e estudos.

Pondere os dias de balada. Ocasionalmente, vá a restaurantes gays (há cidades que não têm esta opção – eu sei), vá à casa de amigas, reúna-se na praça no domingo à tarde e deixe o café pra lá. Viver em baladas não é saudável ou atraente para ninguém. Vai atrapalhar seu rendimento no trabalho/nos estudos e as pessoas terão uma imagem sua vinculada à vida noturna. Caso você se sinta confortável com isto ou o seu trabalho permita, sinta-se à vontade.

Agora você já tem o domínio sobre tudo: a família, os amigos, o trabalho. É discreta quando sai à noite e consegue aprontar sem ser vista. Vai aos lugares com freqüencia o suficiente para estar sempre de romance, mas se mantém ausente ocasionalmente para não virar porta-estandarte do local. O que falta agora?

O rebuceteio. Esta é a pior parte, e a que pode te queimar mais feiamente. O rebuceteio é, por definição, a baixaria das raxas. É o mundo onde todo mundo pode se pegar, já que todo mundo é lésbica mesmo! Este é o momento mais difícil de manter a integridade da sua imagem. A partir do instante em você adentra o rebuceteio, está sujeita a encontrar a raxa absurda que pegou na boate namorando com a sua melhor amiga. E pior: a levar uma saia justa cada vez que a pobre da amiga vai ao banheiro. Neste caso, você está oficialmente ferrada.

Não fique com namoradas de amigas suas. Nem sequer de conhecidas, desconhecidas, figuras invisíveis. Não pegue namoradas, ponto final. Uma mulher com raiva é capaz de tudo. E quer um sentimento que desperte mais raiva do que o de ter sido traída? Não importa o que você faça ou diga, a culpa será, invariavelmente, sua. Você foi a vadia que estragou o relacionamento perfeito dela. Você acabou com tudo, que era perfeito até então. Não há qualquer menção à filha-da-puta que ela namora, que mentiu dizendo que era solteira e deu em cima de você por 1 mês.

O rebuceteio SEMPRE pega você, não importa o quão correta você seja. Alguma coisa vai acontecer. Nestas horas, o que você faz? Preserve sua imagem. Tente conversar com a mulher traída. Diga a ela que você não a conhece, e é exatamente por isto que ela não deve tirar conclusões precipitadas a seu respeito. Diga que sente por qualquer tristeza que possa ter sido causada, por qualquer mágoa gerada, enfatize nas desculpas e na sua ignorância da situação. Não jogue a culpa na vadia da namorada (no fundo, quem leva o chifre sabe que namora uma árvore, todo dia nasce um galho novo). Diga apenas que você não sabia e peça desculpas. Não brigue, bata o pé, xingue, nada do tipo. Do contrário, ela fará da sua vida um inferno. Não há nada pior do que uma mulher rancorosa.

O mesmo vale para namoradas. Se você não quer uma cena de choro incontrolável no meio da faculdade, uma DR em público ou um escândalo no meio da balada careta, não faça por onde. Não traia a sua namorada. Seja alguém de princípios morais e tenha valores.

Se você foi traída, não dê em cima da menina que a sua ex pegou: veja o quão bizarro isto é! É você dar em cima de alguém que vai te lembrar da gaia que você levou, invariavelmente, sempre que existir. Abstraia da namorada, abstraia da gaia e vá viver a sua vida longe das duas.

Sempre que qualquer uma destas coisas acontecerem, eu recomendo que vocês façam o que eu faço quando sou pega desprevenidamente pelo rebuceteio:

- Banho, hidratante corporal, anti-séptico bucal (delícia)
- Massagem com Diva, minha fisioterapeuta absurda.
- Spa do pé, unhas, cabelos, depilação.
- Meia hora na frente do espelho depois de tudo isto.

Aproveite os momentos de maior tristeza para se apaixonar por si mesma. Seja sua própria mulher antes de qualquer outra. Namore consigo mesma e se proteja. Cuide de você como cuidaria de uma namorada. Se você não zelar pela sua integridade moral, acabará se perdendo no mundo gay e sendo mais uma das mulheres que perpetuam o tormento do rebuceteio.

OBS: O rebuceteio tem um capítulo à parte, onde justificaremos o porquê desta baixaria acontecer, e como reconhecer uma fria.

Beatriz fala…

Há um outro aspecto importantíssimo a ser mencionado…

SAINDO DA CRISTALEIRA

A diferença entre sair do armário e sair da cristaleira, é que na cristaleira todo mundo já está vendo você lá dentro, mas ainda assim você insiste em não sair. Do que eu estou falando? Do segundo maior erro cometido ao sair do armário: Namorados de mentira!

É muito difícil descobrir-se gay e tomar uma postura definitiva de nunca mais ficar com um homem na vida. Eu não estou dizendo que isso é a coisa correta a ser feita, longe de mim! Até porque, se você for bissexual, você não ficará apenas com um menininho de vez em quando.

Mentira tem perna curta, não sabe correr e cai! Se você acha que vai ter menos fama de lésbica na cidade porque anda desfilando com um namoradinho por aí, você está redondamente enganada!

Quando eu tive a primeira conversa com a minha mãe (se um dia ela ler isso ela me mata!), ela me perguntou se eu realmente queria assumir um fardo tão pesado sem ter a minha vida profissional e pessoal estabelecida. Eu fiquei apavorada, disse imediatamente que não, conversei com minha namorada e, aos prantos, terminei o namoro.

No caminho de volta para casa parei e pensei: “Que tipo de pessoa sou eu, que tem vergonha das próprias preferências sexuais?” “Gostar de uma mulher não é feio, e eu não vou me agredir por amar uma pessoa do mesmo sexo!”. Voltei o namoro menos de uma hora depois, e foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.

O que a minha mãe não entendia, é que, quanto mais eu ficava com garotos preferindo estar com garotas, mais frustrada eu me sentia por ser “diferente”, e por não corresponder às expectativas daqueles que me amavam. Os meus namorados ficavam desconfiados, o boato se espalhava ainda mais, e eu tinha que arrumar outros namorados para conter a “fama”. Isso se tornou insuportável!

Eu só consegui colocar as minhas idéias em dia quando tratei o assunto com naturalidade comigo mesma. E, pasmem, as pessoas falaram bem menos de mim depois que eu parei de usar namoradinhos de mentira. Por favor, não incorram no meu erro… se você não gostar, não fique. E outra, se você quiser realmente ter uma coisa séria com um garoto gostando de meninas, abra o jogo. Se você não contar, outros contarão por você, e eles não terão o mesmo tino com as palavras.

P.S. Abrir o jogo não é, definitivamente, contar pro seu futuro namorado toda a sua vida sexual e quanto orgulho você tem de ter levado pra cama aquela modelo gostosa! Você só precisa deixar claro para ele que você gosta de pessoas, independente do sexo, e que namoraria uma menina numa boa, se estivesse apaixonada. Pode mencionar que já namorou uma garota, mas trate o assunto com naturalidade! Gostar de uma pessoa do mesmo sexo é saudável, não é errado!

Outro dia, assistindo a uma peça de teatro – a Terça Insana – ouvi personagem “Betina Botox” dizer a seguinte frase:

“Acabei esbarrando num motoboy, que falou viadinho, viadinho! Ai eu falei: Hellooo, se eu vejo um homem e uma mulher de mãos dadas eu não fico por ai apontando… heterozinho, heterozinho (…)”

É bem o espírito da coisa. Não é porque você é gay que vai sair por ai desfilando com a bandeira do arco íris. Quem você leva pra cama é problema seu! Mesmo que você se assuma gay, discrição é a alma do negócio. Se você não quiser ser desrespeitada, não desrespeite. E tenha sempre em mente que você é muito mais do que as suas preferências sexuais.

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