segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Capítulo 1 - Eu sou Gay?

Helena fala…

Este capítulo seria facilmente escrito por milhares de mulheres, ainda que eu diga que é tarefa impossível definir se alguém é ou não gay. O que eu quis dizer é que cada uma de nós, que já passou pelo processo de “sair do armário”, tem uma versão própria de como se descobre se você é ou não gay. Felizmente, só há uma pessoa no mundo capaz de saber se você é gay: olhe-se no espelho.

Cada uma de nós possui uma visão ímpar do que é ser gay. Temos uma definição própria, conceitos pré-formados… mas no fundo, sabemos o que somos… desde cedo, na época em que nosso superego briga fervorosamente com nosso id para suprimir os desejos primários que tentam aflorar e chocar a sociedade contemporânea. Sabemos que há um conflito, uma dúvida, um desejo. Podemos até não admitir, mas sabemos que está lá, adormecido em meio à inércia social em que vivemos.

Cada mulher que já beijou outra tem a sua primeira história, o primeiro toque, o primeiro cheiro, o primeiro gosto. Não cabe, então, fazer qualquer relato neste momento. Cada mulher deve ter sua primeira experiência ainda virgem de experiências de terceiros, e guardá-la para si com todo o carinho e inocência do primeiro amor, pois é exatamente o tipo de sentimento que se deve ter, a priori. A mulher deve se entregar a outra descrente do possível desfecho daquela história… deve pular num abismo sem fim e sentir toda a intensidade de amar outra mulher, sem ter a mínima idéia de como terminam histórias que começam daquela forma.

Beatriz fala…

Sentir atração por uma pessoa do mesmo sexo não é crime e está longe de ser algo incomum. A História narra que a homossexualidade masculina era, inclusive, cultivada na Grécia antiga. Uma questão cultural que nunca impediu os homens de casar e ter filhos.

Mas afinal o que difere um homossexual de um heterossexual e de um bissexual? Se você acha que ir pra cama com uma mulher vai ser uma experiência terrível e não consegue se imaginar nunca beijando uma pessoa do mesmo sexo, é provável que você perca uma experiência bastante prazerosa.

Fazer parte de uma minoria nunca é fácil. Ser apontado na rua, ser alvo de piadas, de preconceitos e principalmente da repreensão por parte daqueles que amamos. É por essas e outras que muitas pessoas perdem tempo, algumas chegando inclusive a não admitir nunca que são gays.

Por que então existem pessoas que preferem relacionamentos com pessoas do mesmo sexo ou com pessoas do sexo oposto? Bom, isso quem tem que explicar é a ciência. Eu não sou psicóloga, não estudo o comportamento humano e não tenho autoridade alguma para falar a respeito do assunto. Em minha modesta opinião, o que define se uma pessoa é gay ou não, é a capacidade dela apaixonar-se por uma pessoa do mesmo sexo, não a atração física.

Ser gay é nojento, feio, sujo? Quem disse isso?

Ter prazer numa relação com pessoas do mesmo sexo não faz de ninguém um homossexual. O corpo responde a estímulos, e uma pessoa do mesmo sexo é capaz de explorar melhor o seu corpo pelo fato de saber onde e de que forma é mais prazeroso.

Sexo entre mulheres é bom, e ponto final. Honestamente falando, eu não conheço uma única mulher que tenha dormido com outra e não tenha gostado. E muitas delas não são lésbicas, apenas corajosas o suficiente para deixar os “pré-conceitos” de lado e se entregarem a novas experiências. Aliás, qual a lésbica experiente que nunca se deparou com um “surto”, de uma marinheira de primeira viagem que fez sexo por experiência e gostou mais do que deveria?

Helena fala…

Mas voltemos no tempo… você ainda está sem saber o que vê quando se olha no espelho. Você não sabe se gosta de mulheres ou de homens. Não sabe se quer, se pode ou ainda: se DEVE se permitir viver uma experiência com outra mulher. Esta é a fase do conflito. O melhor remédio para esta fase é esperar que passe. Eu devo ter passado grande parte da minha adolescência imersa em conflitos sexuais, namorando homens, frustrando-os e me frustrando em retorno. Até o dia em que eu “a” vi… não “a” descreverei aqui ou dividirei a magia do meu primeiro amor com vocês, caros leitores. Infelizmente não cabe neste post… a importância, a relevância da citação é apenas a de ilustrar que, no momento em que eu bati os olhos na primeira mulher que eu quis beijar (uma completa estranha – vale ressaltar), eu soube que era lésbica. Tentei esconder de mim mesma por anos, mas já sonhava com mulheres à noite há muito tempo, e pensava na estranha com tanta freqüência que chegava a beirar o insuportável. Foi minha primeira namorada.

Beatriz Fala…

“Cada mulher deve ter sua primeira experiência ainda virgem de experiências de terceiros, e guardá-la para si com todo o carinho e inocência do primeiro amor(…)”Helena Moraes

Não seria justo que nós narrássemos, neste primeiro capítulo, a forma como “nos descobrimos”.

Deixaremos essas experiências para cada uma de vocês.
No entanto…
Irei descrever abaixo algumas situações. Algumas reais, outras não. Se alguma delas parecer com você, não significa que você é gay, mas, honestamente, está na hora de rever os seus conceitos.

AMIGAS DE COLÉGIO

De repente você se pega pensando em uma amiga do colégio, faculdade ou colega de trabalho mais do que deveria. Pare e repense sua amizade, veja se ela obedece algum dos comportamentos abaixo:

Dos amigos

  • Vocês viraram dupla sertaneja. Ninguém fala o seu nome sem associar ao dela e vice-versa. As pessoas acham estranho quando vocês não são vistas juntas.
  • Vez por outra, há algum comentário maldoso, mas você não se importa. Afinal, você gosta mesmo é de homem e nenhum boato bobo vai mudar isso.
  • Se houve algum comentário, você nunca prestou atenção. Afinal, quem poderia ver maldade em uma amizade tão pura quanto essa?
  • Você morre de ciúmes dela com outras amigas, e fica seriamente chateada quando ela chama outra menina pra sair sem você. A recíproca é semelhante.

Dos garotos

  • Você sai com muitos garotos, ela também, mas no final das contas, a noite é sempre mais divertida quando só estão vocês duas, bebendo, brincando, dançando.
  • Você sempre acha que os namorados que ela arruma não são bons o suficiente para ela.
  • A afinidade entre vocês duas parece ser maior do que a com qualquer namorado e, quando ficam longe mais de um dia, você morre de saudade.
  • Você pode até não ter ciúmes dela com outros rapazes, mas não gosta muito quando ela volta da balada com o menino ao invés de ir dormir na sua casa, ou ao menos liga para dizer como deveria ter ficado bebendo com você.
  • O namorado dela até gosta de você, mas acha a amizade de vocês duas estranha, e reclama porque ela sempre prefere levar você junto. O mesmo acontecendo quando você namora e ela não.

Do contato físico

  • Vocês são sempre muito carinhosas uma com a outra, deitam no colo, mãos dadas, abraços, e quando vocês bebem, acontecem umas brincadeirinhas mais pesadas.
  • Vocês evitam se tocar por alguma razão não identificada. Afinal, carinho é uma coisa que você faz com o seu namorado, não com a sua amiga.
  • Vocês são típicas amigas, se abraçam quando se encontram, sem excessos. No entanto, acontece uma coisa estranha quando vocês bebem. Os abraços ficam mais apertados, enfim, você não sabe explicar ao certo.
  • Você se flagrou pelo menos uma vez olhando pra alguma parte do corpo dela de uma maneira diferente.
  • Você se flagrou pelo menos uma vez pensando como seria se vocês duas se beijassem.
  • Você teve ou tem sonhos estranhos com ela.

Longe de mim não acreditar numa amizade pura e sincera! Mas, se algumas das situações descritas acima descrevem a sua relação com a sua melhor amiga, está na hora de pensar a respeito da sua sexualidade e, de preferência, ler o restante do nosso manual.

O MUNDO GAY SE APROXIMA

Belo dia sua amiga-irmã de infância, aquela menina que costumava brincar com você desde pequenininha, que era apaixonada pelo seu irmão mais velho e que sempre foi para você um exemplo de feminilidade, marca uma saída num bar pra conversar. Depois de 3 doses, ela solta a bomba.

- Eu estou namorando.
- Que maravilha, quem é ele?
- É ela! Eu virei lésbica e estou namorando uma menina.

Passada a fase de impacto, sua amizade volta a ser tão boa como era, e você aceita sair com a nova turma da sua amiga. A namorada dela é uma menina muito bonita, feminina, e uma profissional bem sucedida. Completamente diferente da imagem que você tinha das lésbicas.

De repente, você está numa festinha com promotores, juizes, médicas, advogadas, pessoas bonitas, de bom gosto, do bem e que, por ventura, são homossexuais! Como em todos os grupos sociais do mundo, também há uma elite no meio gay. E se você tiver a oportunidade de conhecê-la, ficará definitivamente surpresa.

Sua amiga está muito feliz com o namoro lésbico, e vai ser perfeitamente natural que ela queira lhe apresentar algumas amigas solteiras da namorada dela. Não fique magoada. Pare e pense se você realmente tem vontade de experimentar, mas saiba dizer não. Se o meio gay de repente lhe parecer interessante e atraente, siga o seu próprio tempo e tome bastante cuidado para não entrar em uma roubada.

Experimentar não fará mal, mas escolher a pessoa e o momento certos pode ser crucial para que isso não seja um caminho sem volta. Nunca esqueça de que assumir uma postura homossexual é algo muito difícil e doloroso. Logo, não “saia do armário” sem ter absoluta certeza de que é isso que você quer.

ELA ESTA DANDO EM CIMA DE MIM!

Como será mostrado nos capítulos seguintes, uma lésbica destemida e apaixonada não costuma medir esforços para conquistar uma mulher, seja ela gay, ou não. É bem verdade que a maioria das mulheres gays e experientes têm algo que denominaremos “gaydar”, uma espécie de sexto sentido que faz saber se uma mulher é lésbica ou não.

No entanto, mesmo que o “gaydar” não apite, ainda assim, algumas lésbicas guerreiras – vide a minha co-autora Helena – tentarão (muitas vezes com sucesso) converter até a mais hétero das mulheres.

Você conhece uma menina muito bonita, que puxa papo com você, é gentil. Até ai nada demais. Ela pede o seu telefone ou MSN e de repente vocês vão ficando mais próximas. De repente, você ouve rumores alarmantes. Seus amigos comentam que a tal menina tem a maior fama de lésbica e que ela provavelmente está se aproximando de você com segundas intenções. Imagine só, fulana, tão gentil, tão sensível, querendo levar você para a cama! Que absurdo! Acontece que muitas vezes o boato é verdadeiro, outras não.

O ideal é que, se você tiver intimidade para tal, converse com ela e pergunte se isso é realmente verdade (o fato dela gostar de meninas). Ela provavelmente será sincera com você e, se não for, acredite nela, mesmo sabendo que é mentira.

A partir daí você vai ter que pensar com muito cuidado a respeito de que postura tomar. Você já teve curiosidade? Gostaria de saber como é um beijo com outra garota? Caso você fosse beijar uma outra garota, seria ela? Ela realmente olha diferente para você ou tudo isso é loucura sua? Não seja preconceituosa. Mulheres lésbicas têm amigas mulheres e heterossexuais sim, e não necessariamente aproximar-se-ão de você com segundas intenções. Mas, infelizmente, a experiência mostra que onde há fumaça, há fogo. E, se você não estiver nem um pouco curiosa, deixe isso bem claro para ela e certifique-se que ela entendeu o recado. Vocês podem continuar boas amigas, não há nada de errado nisso.

Caso contrário, se você está gostando do assédio e cogita a hipótese de ceder, outra vez você deve ponderar uma série de aspectos: Que tipo de relação eu gostaria de ter com ela? É só um beijinho de amiga, uma curiosidade, uma noite de sexo tórrido ou um relacionamento estável homossexual?

Você não precisa vencer a sua timidez, apenas abra um pouco de espaço que ela tomará as providências. Boa sorte!

P.S. Se você provou por curiosidade e se viu mais envolvida do que gostaria, eu aconselho que, o mais rápido possível, avise isso para sua “amiga”. Ela pode não querer nada sério com você (nem todas as mulheres lésbicas são certinhas e boazinhas), e é melhor que a situação seja esclarecida o quanto antes. Um capítulo posterior dará algumas dicas sobre como “reconhecer uma fria”.

MUDANÇA DE CONCEITOS

De repente os seus amigos de anos começam a ficar sem graça. Às vezes nem chega a tanto. Mas, fazendo uma retrospectiva, nos últimos tempos as suas companhias têm mudado bruscamente. Você está freqüentando guetos GLS, andando com muitos amigos gays e descobrindo que o “mundo” em que eles vivem não se compõe apenas de sexo, drogas e rock´n roll como você via na televisão. Você passa a achar beijos entre dois homens e duas mulheres uma coisa absolutamente natural, e fala abertamente para todos que ficaria com uma pessoa do mesmo sexo, se você estivesse envolvida.

Talvez essa seja a maneira mais simples de ingressar no mundo gay, você deixa aflorar os seus instintos, e tem uma postura madura sobre isso. Lidar com a descoberta da sexualidade sem uma paixão abrupta é algo mais leve, uma coisa gradativa.

Que fique bem claro, aceitar a homossexualidade como uma coisa natural não significa que você seja gay. Pelo contrário, esta é a forma certa de encará-la. O viés lésbico deste parágrafo apenas diz respeito às pessoas que “se descobrem” sem maiores traumas.

Infelizmente, essa é apenas uma pequena parte da população gay – já que ninguém escolhe a forma como vai começar a gostar de alguém do mesmo sexo – e nem ela está livre dos preconceitos da sociedade. Afinal, como todas as grandes coisas, descobrir-se gay tem suas dores e suas delícias.

Helena fala…

Se você acha que é gay, mas não tem coragem de admitir, não admita. Lembro-me de pensar “Sei que gosto, sei que gostaria de provar… mas nunca vou deixar isso acontecer. Nunca ninguém vai saber”… Nem nos meus pensamentos acho que chegava a pronunciar “mulher” ou “lésbica”, tamanha era minha resistência à possibilidade de ser gay.

A verdade é que toda mulher tem atração por outras mulheres. No capítulo de conversão eu explicarei com mais detalhes o porquê de 90% da população mundial ser bissexual por instinto… não vem ao caso aqui. Aqui o problema é você, não as outras. É o fato de você não saber e isto incomodar tanto a ponto de criar uma sensação desagradável… esta sensação de não saber, de não definir, de não sentir. Minha recomendação universal sempre foi e sempre será: PROVE. Apenas provando você saberá se é realmente algo que difere do que você já conhece.

Somente beijando você saberá se o toque macio dos lábios e os cabelos longos por entre os dedos despertam em você um desejo avassalador até então adormecido. Os beijos indefesos, passivos, suaves… o toque delicado das mãos, as mãos nas cinturas, delineando curvas até então só sentidas em primeira pessoa… o encontro dos quadris, das coxas… os seios encostando uns nos outros, imersos na mistura dos perfumes das duas…

Deu vontade até em mim.

Maaas, contudo, porém, todavia: prove na HORA CERTA! Ainda que demore, não vá sem estar preparada. Tenha vontade. Saiba quem você quer, nutra sentimentos, deseje, se apaixone… e então se entregue. Viva um primeiro amor com toda a inocência de quem nunca amou… a graça entre duas mulheres está justamente na intensidade com a qual ambas conseguem apagar, completamente, todo o restante do mundo quando se amam profundamente.

Capítulo 3 - Saindo do Armário sem ser vista


Beatriz fala…

Eu não me descobri gay, não tive maiores complexos existenciais e levava a coisa de uma forma leve. A “ficha só começou a cair” depois que acabei o meu primeiro namoro. Foi tudo muito rápido, menos de dois meses desde o início da curiosidade até o primeiro beijo, e conseqüente primeiro amor. Eu me apaixonei de uma forma abrupta, intensa, desnorteante.

O mais incrível de tudo é que, até então, eu adorava garotos, era absolutamente hetero e se eu por ventura tive algum desejo por mulher antes daqueles dois meses que antecederam a minha “conversão” (depois descobri que os tinha desde pequena), eles estavam muito bem bloqueados.

Eu não tinha o mínimo contato com o mundo gay, apenas com ela e com um único casal lésbico amigo. Na minha cabeça, o amor que sentia por ela era o mais puro e verdadeiro de todos. Tão forte que havia inclusive superado o fato dela ser uma mulher. Eu a amaria de qualquer forma, fosse ela homem, mulher ou ornitorrinco. Doce ilusão!
Uma vez terminado o meu namoro, comecei a freqüentar “chats” lésbicos no Mirc (sim, faz tempo) e a ir para barzinhos com o meu “casal amigo”. Já estava outra vez namorando rapazes, mas sentia falta de conversar com meninas a respeito de meninas.
Nossa, ainda posso me lembrar o frio na barriga, a mistura de arrepio e angústia que senti quando fui pela primeira vez à boate gay e vi todos aqueles homens e mulheres se beijando, com os go-go-boys dançando no palco. Logo na minha noite de estréia em boates GLS, eu reconheci e fui reconhecida por:
Meu ex-professor de matemática do cursinho.
A bibliotecária do colégio em que eu estudara no primário.
A esposa do melhor amigo do meu ex-namorado, muito bem acompanhada por uma jornalista de quase 1,80m!

Foi duro me adaptar, até que eu a conheci.

M Y R N A

A primeira mulher lésbica que tinha as características que eu admirava num homem. Bonita, bem sucedida, inteligente e completamente louca! Menos de três semanas após nos conhecermos, eu estava, outra vez, perdidamente apaixonada por uma mulher!
Eu queria andar de mãos dadas na praia, beijar no meio da boate, ir de “primeira dama” pras festas do trabalho dela. E, acreditem, eu fiz tudo isso e muito mais, tendo, inclusive, que fugir correndo de uma rave para não ser esfolada por um grupo de homens tarados que insistiam em entrar no meio do nosso beijo.

E foi assim que eu sai do armário….

SAINDO DO ARMÁRIO

Bom, eu comecei este capítulo contando um pedaço da minha história para que vocês entendam tudo o que NÃO se deve fazer para sair do armário sem ser vista. Assumir-se gay para si mesma é uma coisa, assumir para o mundo todo é muito mais complexo do que parece. Mesmo que você seja absolutamente decidida sobre a sua sexualidade, é interessante que você pondere todas as conseqüências acarretadas ao se “assumir oficialmente” antes de dar o próximo passo.
Este é um capítulo muito difícil, já que cada uma deve decidir a sua maneira de lidar com o assunto. Eu gostaria muito de saber a fórmula mágica para viver com decência numa sociedade retrógrada e preconceituosa, mas não sei. A única conclusão à qual cheguei foi que a única maneira de mudar isso é com o respeito mútuo. E, enquanto a sociedade não evolui, eu vou fazer um relato de algumas confusões que você DEVE evitar, se quiser manter a sua privacidade.
* A partir do momento em que você começa a ficar com garotas, a atenção em relação à escolha das pessoas com quem você vai se envolver dali por diante deve ser redobrada. Cuidado ao escolher as mulheres que você vai ficar. Lembre-se, você não é movida à testosterona, e o importante é a qualidade!

* Quanto aos garotos… ihhh, ser bissexual é barra. Todo homem, sem exceção, quer levar pra cama duas mulheres ao mesmo tempo. Então, se ele descobrir que você gosta de meninas, a chance dele querer se envolver com você só pra “comer” você e uma amiga sua ao mesmo tempo é grande! Falar a um homem que você gosta de garotas é algo complicado, tenha certeza de que ele é de confiança antes de contar. Homens são bem mais fofoqueiros do que parecem. E, se o cara for só seu amigo, ele ainda pode ficar com alguma ex-namorada sua só pra provar que também consegue! Ai… ai… homens! Mas ainda há esperanças. Homens decentes e apaixonáveis existem, só estão todos casados ou são gays.

* Se você não quer receber aplausos de uma velhinha em pleno Shopping Center, ser chamada a atenção pelo garçom do restaurante, ou ouvir uma voz de criancinha perguntando para o pai se menina pode beijar menina, evite beber demais com alguém por quem você sente atração física em lugares caretas. No caso da coisa apertar, peça a conta e saia! Ou então use a cabine do banheiro (eu não recomendo, mas tem gente que gosta).

* Nunca, jamais, sob hipótese alguma, beba demais quando estiver com algum namoradinho e uma mulher interessante estiver olhando para você. Saia do recinto imediatamente e comece a rezar para ele não levar um chifre. Homens heteros que são traídos por duas mulheres são a raça mais vingativa que a humanidade já viu!

* Não tenha namorados de mentira, principalmente se eles não souberem que o são. Eles não merecem ser cornos só porque são homens, por favor! E, como eu já disse, eles são vingativos.

* Todos os apartamentos modernos têm câmeras de segurança! Principalmente nos elevadores!

* Tenha sempre em mente que boate gay também é antro de fofoqueiros e, não é porque as pessoas que estão ali dentro devem na praça que elas vão deixar de falar de você. Namore tranqüila, mas não faça o local de motel.

* Orkut, fotolog e blog expõem sua vida pessoal. Logo, pense bem no que você vai colocar neles.

*Nunca roube o namorado ou a namorada de uma mulher mal amada. Se o fizer, esteja preparada para as conseqüências.

*Nunca tenha Helena Moraes como sua melhor amiga! (Brincadeirinha, meu amor! hehehehe).

Helena fala…

Tô tão ótima… não satisfeita em abrir todos os capítulos, ela sempre me esculhamba quando chega na parte em que eu vou começar a falar. Freud explica essa frustração, viu?! Hehe… sim, vamos ao que interessa.

Sair do armário é, por definição, admitir ser gay. Seja para você ou para outros, via de regra, a saída mais correta e prudente envolve auto-preservação. A imagem pública que você terá para as pessoas dependerá de como você conduzirá a sua vida após admitir para si mesma que é lésbica, e não do fato de sê-la, única e exclusivamente. Se você parar para pensar, reconhecerá pessoas que sabidamente são gays e levam vidas e carreiras de respeito, independente de opção sexual. Haverá, também, aquelas pessoas que levam vidas expostas e são alvo de todo tipo de comentário. Qual a diferença entre elas?

A expressão “sair do armário sem ser vista” consiste não em se tornar uma eterna enrustida, mas em se assumir para si mesma e traçar metas. É você tentar organizar a grande bagunça emocional que carrega em mente, e projetar seus atos de hoje num futuro de amanhã. Assim, você poderá levar uma vida de respeito e não carregará o fardo que imagina aguardá-la.

Como exemplo cito Firma, grande amiga, executiva competentíssima. Firma é sabidamente lésbica há anos, e a cada grande evento VIP social, chegam dois convites à sua casa: femininos. Pensa que ela precisou contar a alguém que era gay? Não! E o fato de ser lésbica a deixou marginalizada?! De forma alguma. É freqüentadora dos melhores restaurantes da cidade, conhecedora de culinária, enófila, culta e tudo o mais.

Admirada por pessoas que são e que não são gays, mantendo os mesmos amigos que tinha antes de virar lésbica, Firma é um exemplo de que a saída do armário pode sim – e deve – ser suave para todas nós.

O grande problema da maioria das lésbicas recém-chegadas é a fome. A vontade de abraçar o mundo com as pernas (literal e metaforicamente), a vontade de beijar todas as mulheres do mundo – ao mesmo tempo –, de conhecer todas as boates gays, bares gays, pessoas gays e ainda assim permanecer incógnita no trabalho. Isto é surreal! Não se engane: se você não tomar cuidado, as pessoas verão você e o que você estiver fazendo no mais remoto dos lugares. Saberão com quem se envolveu, o que fez e deixou de fazer. E o que fazer então?! Não freqüentar lugares gays?!

Claro que não! Você deve conhecer lugares gays, freqüentar o seu mundo e figurar nas festas – até para ampliar o seu círculo de amigas e conhecer novas garotas – o problema é como você faz isto e a sua postura pública. Estes sim, definirão que tipo de imagem você terá. Como agir então? A primeira coisa que recomendo: tenha calma. Faça ioga, terapia, tome betabloqueador. Não seja impulsiva e imediatista, aprenda com quem já errou (e muito).

Vamos aos principais conceitos práticos que envolvem a saída do armário:

Ao sair do seu armário, onde vc estaria? Em casa. A saída do armário começa em casa, e é na sua casa que você tem que pensar em primeiro lugar. Se você é uma garota caseira, tranqüila, serena, não vire uma mega-baladeira cheia de amigas novas que a sua mãe não conhece. Ela vai, no mínimo, achar que você está envolvida com drogas. Mude hábitos antigos aos poucos, não deixe que se perceba uma mudança brusca em sua vida ou na sua personalidade, isto gera ansiedade naqueles que estão ao seu redor, e faz com que estes pensem que há algo de errado com você – e comecem a fuçar a sua vida. E qual o problema? O problema é que você acabou de sair do armário e ainda está definindo quem vai ser, os lugares que freqüentará, os amigos que terá… não é interessante ter que lidar com conversas familiares delicadas neste momento. Mantenha a harmonia dentro de casa durante o início, você vai precisar do colo da sua mãe… sair do armário é difícil e desgastante para quem já tem os pré-conceitos da sociedade anexados ao superego gigante do subconsciente.

Vamos lá… o que isto quer dizer na prática? Conversas ao telefone com a sua nova namoradinha devem ser feitas da porta pra rua. Não traga mulher para casa. MSN é um perigo, principalmente se você grava conversas. Cuidado com logs e pastas de arquivos recebidos. Mantenha sua privacidade e individualidade. Não deixe fotos ou cartas de garotas soltas em casa se você não quer que alguém encontre. Não leve 3 amigas novas para casa na mesma semana, ou sua mãe achará estranho. Apresente amigas novas ocasionalmente, sempre fazendo menção a que curso fazem, de onde vocês se conhecem e que amigos em comum têm. Se você não mora só, não leve meninas pra dormir com você em casa: é furada. Ok, você levou… eu sei, você não conseguiu evitar. Pelo menos espere todos dormirem para fazer, não vá fazer pegação às 9 da noite, porque eventualmente a novela vai acabar e todos vão desligar a tv e passear pelo corredor ao som dos seus gemidos.

Esta merece um parágrafo único: não minta para sua mãe. Todas as mães sabem quando os filhos mentem. É feito o gaydar, elas passaram 20 anos observando você… nem elas mesmas sabem como identificam uma mentira sua, mas elas o fazem. E se você começar a mentir diariamente, a sua mãe fará da sua vida um inferno – ou ficará louca e enlouquecerá você junto. Caso você vá sair para uma boate gay, não minta. Não diga que você vai dormir na casa da pobre coitada da sua melhor amiga do colégio. Você vai chegar com cheiro de cigarro nas roupas e a sua mãe vai pensar que a sua amiga está fumando, pondo você para fumar, virou incendiária ou está fazendo rituais satânicos de madrugada ao redor duma fogueira. Diga que vai a uma balada. Se não quiser especificar, diga que ainda não escolheu, que vai passar pela frente e ver qual aquela que te atrai mais.

Ok, você consegue sair para baladas com discrição, sua mãe não está ciente de qualquer mudança em sua vida. Ponto para você. Vamos sair de casa.

Quem você encontra à porta de casa? Seus amigos, a segunda família. Estas são as pessoas que você selecionou, dentre todas aquelas que te cercam, para serem seus companheiros nos melhores e piores momentos. Esta parte é importante: não abra mão de seus amigos. Não os deixe de lado para fazer um grupo inteiramente novo no mundo gay. Você dificilmente conseguirá reunir pessoas com igual afinidade, respeito e admiração por você num universo onde toda mulher é uma aqüendação em potencial. É um rebuceteio! Tenha seus amigos fora do mundo gay, preserve-os. Os valores que uniram vocês não foram impulsos sexuais ou interesses de aqüendação, mas sim afinidades no sentido amplo da palavra. Selecione, dentre seus amigos, aquele ou aquela em quem você confia mais e conte – saiba medir as palavras, conte devagar, ele ou ela podem não esperar – sobre sua descoberta sexual. Divida suas angústias, seus medos, a insegurança que te acompanha. Nada como uma boa amiga hetero que te entende nestas horas e oferece o ombro amigo, a terceira visão (de quem está de fora) e uma opinião neutra em todas as situações. Se esta pessoa realmente for sua amiga, ela não só entenderá, como te apoiará e irá admirar a sua coragem: é preciso ser “muito mulher” para admitir ser lésbica.

Se você der sorte, conseguirá manter todos os seus amigos e integrar algumas pessoas gays que conhecer ao seu grupo, ou levar alguns dos amigos heteros consigo quando for a algum lugar gay. A presença de seus amigos antigos ajudará você na hora de selecionar suas novas amigas, você acabará andando com garotas que têm mais o seu perfil, terá o apoio dos seus amigos caso tudo dê errado e poderá continuar saindo e fazendo os mesmos programas de sempre com a sua namoradinha linda ao lado, tendo o respeito de todos.

Não minta para os seus amigos. Você irá magoá-los, perder a confiança que conquistou a duras penas durante anos a fio e, quando se der conta, este processo será irreversível. Você estará, então, sozinha no meio da selva do rebuceteio. E esta última é cruel, acreditem.
Beatriz fala…

Só um adendo: Todas as mulheres “entendidas”, salvo raras exceções, cuja família descobriu a sua preferência sexual, provavelmente ouviram uma das seguintes frases:

“Isso é uma fase, vai passar”.
“Isso é tudo má influência, a culpa é dessas pessoas que você está andando!”.

Tenha sempre uma postura firme em relação a isso! Não seja covarde, não deixe as coisas no ar! Diga que se você está ficando com mulher, independente do furacão de saias que esteja adentrando a sua cabeça, é por vontade sua, não por influência dos outros! Isso geralmente não muda a postura dos seus pais em relação a nada, mas abre um viés para que você possa ter o direito de andar com quem quiser. Afinal, você já está bem grandinha e sabe o que é melhor para você, certo? Falaremos sobre isso posteriormente em outro capítulo.

Helena fala…

Já gozando de harmonia familiar e mantendo seus amigos, vamos à rua agora. Obrigações em primeiro lugar. É segunda-feira pela manhã: onde você estará?! No trabalho/faculdade/colégio. E aí? Você precisa sair contando para todo mundo?

- Fulano, me dá as anotações de bioquímica, por favor?
- Aqui, Helena!
- Por sinal, eu sou lésbica, tá?

Não!!

Você não anuncia que é gay, não tatua o arco-íris na testa e pinta o cabelo de rosa. Sossega! Você vai levar, profissionalmente, a mesma vida que levava antes. Restrinja-se apenas a não permitir que a sua namorada vá te visitar no meio da tarde e leve um buquê de flores pedindo desculpas pela briga da hora do almoço. Deixe bem claro que lugar de trabalho é lugar de trabalho. E arrume namoradas com noção o suficiente para entender isto! Outro ponto a ser destacado é: não atenda telefonemas de mulheres durante o horário de trabalho. O enrustido/mal-amado ao lado (aquele casado e frustrado, com 2 filhos, que pega menininho no final-de-semana escondido da esposa, chegando na segunda e dizendo que o congresso de gastroenterologia foi maravilhoso) estará pronto para ouvir a sua conversa e espalhar que você é ‘sapatão’. Atenda o telefone e diga “Oi, linda. Jajá eu te ligo, tá? Me dá cinco minutinhos, estou ocupada”. Linda pode, mulheres se tratam carinhosamente. Entretanto, se você diz que não namora, não atenda o telefone dizendo “Oi, meu amor! Que saudades de você… quero vc hoje novamente, meu lindo” (sim, tem gente que acha que trocar o gênero da palavra ajeita tudo, né?)

Cena verídica, eu e Bia no salão:

Bia: “Eu odeio o Marcelo. Aquele idiota. Me pôs um chifre com a cidade inteira!”
Helena: “Ele não vale um real! Eu sempre te disse… e vc brigava comigo! Sua infeliz! Muito melhor esse cara que vc tá agora”
Bia: “É… e Marcelo agora anda ligando sabe pra quem? Pra Bernardo!”
Helena: “O QUE?! Bernardo, meu ex?! Ahhhh… se Marcelo ficar com Bernardo, EU MATO ELE!”
Manicure: “Por que você namorou um viado?”

Conclusão: Não inventa. É “jajá te ligo”, e quando você puder falar tranqüilamente, telefone. Esta dica vale para dentro de casa também.

Caso alguém levante o tópico “lésbicas”, seja para dizer que alguém virou, para falar de algum personagem do The L Word ou para dizer que tem vontade de beijar, não dê uma de homofóbica nem homófila. Seja neutra. Ambiente de trabalho não é lugar para ser homofóbica se você é lésbica. Caso alguém saiba de você, começará a questionar seu caráter e valores morais (afinal, você será uma potencial candidata a mentirosa patolócia, sociopata e afins). Não diga também que tem várias amigas lésbicas e amigos viados (se bem que hoje em dia todo mundo tem amigo viado). Não se vincule ao mundo gay, nem o repudie publicamente. Mantenha-se calada. Caso a sua opinião seja solicitada, limite-se a dizer “sou a favor de toda forma de amor”, ou “amor é sempre amor, desde que haja respeito”. Estas sim são respostas da lésbica respeitada.

Ok, você tem o respeito em ambiente de trabalho, as pessoas te admiram por sua competência, você se preserva e pode até haver algum boato, mas você é tão boa profissional, tem uma imagem tão impecável e uma postura tão admirável que, sinceramente falando, ninguém liga tanto assim.

Chegamos na parte legal! Baladas!!

Você vai àquele lounge absurdo que rola toda sexta. Chegando lá, vê a menina mais absurda, sensual e deliciosa do lugar olhando fixamente nos seus olhos… você olha para os lados e não vê ninguém olhando de volta. É para você! Parece mentira… O decote enorme que ela usa fica à mercê de ceder a cada mexida que o quadril faz ao som da música eletrônica, e você parece antecipar o que aquele pedacinho de roupa guarda por baixo. O sangue ferve, a nuca arrepia… dá aquele frio no estômago. Você respira fundo e resolve que vai até lá. Ela te olha, te chama… você não acredita. O coração dispara, você já se imagina ali, pegando em tudo e… Puuuuuuuuuuutz!!!

Seu colega de trabalho, aquela bicha louca e fofoqueira de quem todo mundo fala mal está bem ao lado dela, dançando todo suado e vestindo uma regatinha amarela toda furadinha (podre!).

E agora? Pensa rápido… pega ou não pega? Você pode ter uma noite absurda com ela e guardar os momentos extasiantes na memória – e dane-se a bicha louca, ele é viado também, não?! – ou você pode deixar passar com medo de se queimar no trabalho. Qual dos dois?! Óbvio que se você se der estas duas opções, você vai acabar pegando… se não agora, daqui a meia hora quando tomar a próxima vodka. Seja esperta. Chame-a para conversar e tire-a dali. Leve-a para o outro lado da boate, beije, converse, faça romance… e depois convide-a para sair de lá, sob o pretexto de não querer se expor. Pode acabar sendo até melhor, afinal de contas vocês estarão a sós.

No dia seguinte, você vai à mesma boate. Sem a bicha fofoqueia agora. “Rááá!!”, você pensa. Esfrega as mãos e está pronta para a guerra. Chega na balada e beija 5 pessoas durante a noite. Na hora da saída você vê que não era a bicha fofoqueira quem estava na boate, mas o seu cunhado com a sua irmã, que foram para um aniversário qualquer e viram você “fagocitando” a festa inteira. Moral da história? Se uma mulher beija 5 homens na balada e é chamada de promíscua, você está se submetendo ao mesmo fazendo isto publicamente. É tão feio quanto. Quer pegar 5 meninas na mesma noite? Vai fundo! Faz uma filinha no banheiro e fica lá dentro beijando todas elas sem que ninguém te veja. Mas lembre-se de que todas elas têm amigas, e o mundo gay é, via de regra, um ovo em qualquer lugar.

Já é domingo, e hoje tem aquele café maravilhoso… você não pode perder. TODO MUNDO vai estar lá… a raxa de sexta, as 5 do sábado e a que você vai pegar hoje, que não é nenhuma destas 6. Você já é recebida com festa na mesinha da frente, a moça que dá o papel da entrada já te conhece. O samba já é familiar, você já sabe as letras de cor. Dança fazendo passinhos. Toma todas, passa naquele bar ainda antes de ir para casa. Na segunda pela manhã, chega na aula com o cabelo cheirando a cigarro e resto de maquiagem ao redor dos olhos. Não teve coragem de tomar banho e a pele tá aquele óleo super estiloso. Moral da história: não freqüente baladas de quinta a domingo se você não quer ou não pode ter fama de baladeira, pois é isto que vai acontecer. Cuidado também para não deixar que as farras atrapalhem a sua vida profissional e estudos.

Pondere os dias de balada. Ocasionalmente, vá a restaurantes gays (há cidades que não têm esta opção – eu sei), vá à casa de amigas, reúna-se na praça no domingo à tarde e deixe o café pra lá. Viver em baladas não é saudável ou atraente para ninguém. Vai atrapalhar seu rendimento no trabalho/nos estudos e as pessoas terão uma imagem sua vinculada à vida noturna. Caso você se sinta confortável com isto ou o seu trabalho permita, sinta-se à vontade.

Agora você já tem o domínio sobre tudo: a família, os amigos, o trabalho. É discreta quando sai à noite e consegue aprontar sem ser vista. Vai aos lugares com freqüencia o suficiente para estar sempre de romance, mas se mantém ausente ocasionalmente para não virar porta-estandarte do local. O que falta agora?

O rebuceteio. Esta é a pior parte, e a que pode te queimar mais feiamente. O rebuceteio é, por definição, a baixaria das raxas. É o mundo onde todo mundo pode se pegar, já que todo mundo é lésbica mesmo! Este é o momento mais difícil de manter a integridade da sua imagem. A partir do instante em você adentra o rebuceteio, está sujeita a encontrar a raxa absurda que pegou na boate namorando com a sua melhor amiga. E pior: a levar uma saia justa cada vez que a pobre da amiga vai ao banheiro. Neste caso, você está oficialmente ferrada.

Não fique com namoradas de amigas suas. Nem sequer de conhecidas, desconhecidas, figuras invisíveis. Não pegue namoradas, ponto final. Uma mulher com raiva é capaz de tudo. E quer um sentimento que desperte mais raiva do que o de ter sido traída? Não importa o que você faça ou diga, a culpa será, invariavelmente, sua. Você foi a vadia que estragou o relacionamento perfeito dela. Você acabou com tudo, que era perfeito até então. Não há qualquer menção à filha-da-puta que ela namora, que mentiu dizendo que era solteira e deu em cima de você por 1 mês.

O rebuceteio SEMPRE pega você, não importa o quão correta você seja. Alguma coisa vai acontecer. Nestas horas, o que você faz? Preserve sua imagem. Tente conversar com a mulher traída. Diga a ela que você não a conhece, e é exatamente por isto que ela não deve tirar conclusões precipitadas a seu respeito. Diga que sente por qualquer tristeza que possa ter sido causada, por qualquer mágoa gerada, enfatize nas desculpas e na sua ignorância da situação. Não jogue a culpa na vadia da namorada (no fundo, quem leva o chifre sabe que namora uma árvore, todo dia nasce um galho novo). Diga apenas que você não sabia e peça desculpas. Não brigue, bata o pé, xingue, nada do tipo. Do contrário, ela fará da sua vida um inferno. Não há nada pior do que uma mulher rancorosa.

O mesmo vale para namoradas. Se você não quer uma cena de choro incontrolável no meio da faculdade, uma DR em público ou um escândalo no meio da balada careta, não faça por onde. Não traia a sua namorada. Seja alguém de princípios morais e tenha valores.

Se você foi traída, não dê em cima da menina que a sua ex pegou: veja o quão bizarro isto é! É você dar em cima de alguém que vai te lembrar da gaia que você levou, invariavelmente, sempre que existir. Abstraia da namorada, abstraia da gaia e vá viver a sua vida longe das duas.

Sempre que qualquer uma destas coisas acontecerem, eu recomendo que vocês façam o que eu faço quando sou pega desprevenidamente pelo rebuceteio:

- Banho, hidratante corporal, anti-séptico bucal (delícia)
- Massagem com Diva, minha fisioterapeuta absurda.
- Spa do pé, unhas, cabelos, depilação.
- Meia hora na frente do espelho depois de tudo isto.

Aproveite os momentos de maior tristeza para se apaixonar por si mesma. Seja sua própria mulher antes de qualquer outra. Namore consigo mesma e se proteja. Cuide de você como cuidaria de uma namorada. Se você não zelar pela sua integridade moral, acabará se perdendo no mundo gay e sendo mais uma das mulheres que perpetuam o tormento do rebuceteio.

OBS: O rebuceteio tem um capítulo à parte, onde justificaremos o porquê desta baixaria acontecer, e como reconhecer uma fria.

Beatriz fala…

Há um outro aspecto importantíssimo a ser mencionado…

SAINDO DA CRISTALEIRA

A diferença entre sair do armário e sair da cristaleira, é que na cristaleira todo mundo já está vendo você lá dentro, mas ainda assim você insiste em não sair. Do que eu estou falando? Do segundo maior erro cometido ao sair do armário: Namorados de mentira!

É muito difícil descobrir-se gay e tomar uma postura definitiva de nunca mais ficar com um homem na vida. Eu não estou dizendo que isso é a coisa correta a ser feita, longe de mim! Até porque, se você for bissexual, você não ficará apenas com um menininho de vez em quando.

Mentira tem perna curta, não sabe correr e cai! Se você acha que vai ter menos fama de lésbica na cidade porque anda desfilando com um namoradinho por aí, você está redondamente enganada!

Quando eu tive a primeira conversa com a minha mãe (se um dia ela ler isso ela me mata!), ela me perguntou se eu realmente queria assumir um fardo tão pesado sem ter a minha vida profissional e pessoal estabelecida. Eu fiquei apavorada, disse imediatamente que não, conversei com minha namorada e, aos prantos, terminei o namoro.

No caminho de volta para casa parei e pensei: “Que tipo de pessoa sou eu, que tem vergonha das próprias preferências sexuais?” “Gostar de uma mulher não é feio, e eu não vou me agredir por amar uma pessoa do mesmo sexo!”. Voltei o namoro menos de uma hora depois, e foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.

O que a minha mãe não entendia, é que, quanto mais eu ficava com garotos preferindo estar com garotas, mais frustrada eu me sentia por ser “diferente”, e por não corresponder às expectativas daqueles que me amavam. Os meus namorados ficavam desconfiados, o boato se espalhava ainda mais, e eu tinha que arrumar outros namorados para conter a “fama”. Isso se tornou insuportável!

Eu só consegui colocar as minhas idéias em dia quando tratei o assunto com naturalidade comigo mesma. E, pasmem, as pessoas falaram bem menos de mim depois que eu parei de usar namoradinhos de mentira. Por favor, não incorram no meu erro… se você não gostar, não fique. E outra, se você quiser realmente ter uma coisa séria com um garoto gostando de meninas, abra o jogo. Se você não contar, outros contarão por você, e eles não terão o mesmo tino com as palavras.

P.S. Abrir o jogo não é, definitivamente, contar pro seu futuro namorado toda a sua vida sexual e quanto orgulho você tem de ter levado pra cama aquela modelo gostosa! Você só precisa deixar claro para ele que você gosta de pessoas, independente do sexo, e que namoraria uma menina numa boa, se estivesse apaixonada. Pode mencionar que já namorou uma garota, mas trate o assunto com naturalidade! Gostar de uma pessoa do mesmo sexo é saudável, não é errado!

Outro dia, assistindo a uma peça de teatro – a Terça Insana – ouvi personagem “Betina Botox” dizer a seguinte frase:

“Acabei esbarrando num motoboy, que falou viadinho, viadinho! Ai eu falei: Hellooo, se eu vejo um homem e uma mulher de mãos dadas eu não fico por ai apontando… heterozinho, heterozinho (…)”

É bem o espírito da coisa. Não é porque você é gay que vai sair por ai desfilando com a bandeira do arco íris. Quem você leva pra cama é problema seu! Mesmo que você se assuma gay, discrição é a alma do negócio. Se você não quiser ser desrespeitada, não desrespeite. E tenha sempre em mente que você é muito mais do que as suas preferências sexuais.